De Araraquara ao Canadá: casal já percorreu 10 mil km de bicicleta e segue viagem até a Copa do Mundo

Ciclistas de Araraquara já pedalaram mais de 10 mil km e seguem rumo a Vancouver

 

Eles partiram de Araraquara (SP) em agosto de 2024 levando apenas duas bicicletas, coragem e um sonho: chegar ao Canadá a tempo de acompanhar a Copa do Mundo de 2026. Um ano depois, o fisioterapeuta Fernando Luiz Petroni Alves Machado, de 41 anos, e a advogada Marisa Barbieri Boralli, de 40, já percorreram mais de 10 mil quilômetros pela América do Sul e ainda estão apenas na metade do caminho.

O destino final é Vancouver, uma das sedes da competição que será disputada no Canadá, Estados Unidos e México. O casal batizou a aventura de “Pedalando Rumo ao Hexa”, unindo a paixão pelo esporte e pela seleção brasileira ao amor pelo cicloturismo.

Uma jornada de sacrifícios e escolhas

Para tornar o sonho possível, Fernando arrendou seu estúdio de pilates e Marisa alugou o apartamento. Além disso, somaram as economias da família para custear a viagem. “Decidimos trocar a estabilidade pela liberdade da estrada, ao menos por alguns anos”, conta Fernando.

Desde que deixaram a “Morada do Sol”, como Araraquara é conhecida, eles passaram por Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, e seguiram viagem rumo ao Uruguai, Argentina, Chile, Bolívia, Peru e Equador.

“O primeiro ano pedalando pela América foi transformador. Vivemos intensamente cada dia, enfrentando subidas intermináveis e clima imprevisível. Mas também fomos presenteados com paisagens que tiram o fôlego e com a generosidade de pessoas incríveis pelo caminho”, diz Fernando.

Da barraca ao fogareiro: rotina na estrada

A vida do casal é marcada pela simplicidade. Pedalam em média 60 km por dia — em regiões de serra ou deserto, esse número cai bastante. Carregam nas bicicletas cerca de 60 kg extras: barraca, colchão inflável, sacos de dormir, roupas, panelas e alimentos básicos.

Com o fogareiro portátil, cozinham a própria refeição: arroz, macarrão, aveia, pão, enlatados, frutas e verduras compradas no caminho. Mantêm suprimentos para cerca de três dias.

“À noite procuramos um lugar seguro para dormir, seja acampando, em hospedagens simples ou até convidados por famílias que conhecemos na rota. É uma rotina cansativa, mas cheia de descobertas. Cada dia é diferente”, explica o fisioterapeuta. 

Fernando Luiz Petroni Alves Machado e Marisa Barbieri Boralli, casal de Araraquara que já percorreu mais de 10 mil km de bicicleta pela América do Sul. Unidos no projeto “Pedalando Rumo ao Hexa”, seguem viagem rumo ao Canadá para acompanhar a Copa do Mundo de 2026. Foto: Reprodução/Arquivo pessoal

Desafios extremos

O trecho mais difícil até agora foi a travessia do Paso de Jama, a 4,2 mil metros de altitude, na fronteira entre Argentina e Chile.

“Foram 100 km de percurso desértico, sem estrutura, com frio de -4ºC e vento contra. Levamos 12 horas pedalando sem possibilidade de acampar, pois não tínhamos comida suficiente. Foi o maior teste físico e psicológico da viagem”, lembra Fernando.

Sobre as experiências nos países, a Argentina foi considerada a melhor em estrutura, a Bolívia surpreendeu positivamente e o Peru, embora com paisagens marcantes, não agradou tanto.

No quesito segurança, o casal estuda as rotas e pede orientações a moradores locais. “Até agora não passamos por nenhuma situação perigosa. E não pretendemos passar”, brinca Fernando.

Saúde, fé e resiliência

Desde o início da jornada, precisaram procurar o sistema de saúde apenas duas vezes: uma por intoxicação alimentar e outra por desidratação. Apesar dos percalços, nunca pensaram em desistir.

“Para enfrentar uma jornada dessa magnitude, é preciso ter muita fé e acreditar que tudo vai dar certo”, diz Fernando.

Fernando e Marisa, de Araraquara, já pedalaram por Uruguai, Argentina, Chile, Bolívia, Peru e Equador rumo ao Canadá. Foto: Reprodução/Arquivo pessoal

Transformação pessoal e parceria

A viagem é mais do que um desafio físico: é um mergulho na convivência e na parceria.

“Passamos 24 horas juntos, enfrentando frio, fome, cansaço e até medo. Isso nos ensinou a respeitar os silêncios, dividir tarefas e celebrar pequenas conquistas. A estrada nos uniu de um jeito que a vida ‘normal’ talvez nunca conseguisse”, reflete o ciclista.

Segundo ele, a aventura os ensinou a viver com menos, valorizar o simples e confiar mais no presente. “Cada dia tem seu desafio e sua recompensa. Aprendemos a ser mais pacientes e resilientes”, completa.

Experiência prévia e novos horizontes

Fernando pedala desde 2014 e já fez várias viagens de cicloturismo pelo Brasil, muitas delas ao lado de Marisa. Em 2022, o casal pedalou da Inglaterra até a Itália, em um percurso de 1,5 mil km, cruzando nove países em 32 dias.

Agora, o desafio é muito maior: cruzar o continente até o Canadá. Com previsão de chegada em 2026, Fernando e Marisa seguem colecionando histórias, amizades e aprendizados — quilômetro por quilômetro — embalados pela esperança de que, quando chegarem a Vancouver, possam não apenas assistir à Copa, mas celebrar um Hexa do Brasil.