Arquitetura Urbana em Araraquara: Legado Italiano em Foco
Araraquara, uma cidade marcada pela influência italiana em suas raízes culturais e desenvolvimento, celebra a Semana da Imigração Italiana com um olhar especial para a arquitetura que moldou seu cenário urbano. Nesta segunda matéria especial, destacamos as contribuições de Dr. Augusto Bignardi, um engenheiro italiano cujo talento deixou marcas indeléveis na paisagem da cidade.
Álbum de Araraquara – 1915. Araraquara: Câmara Municipal de Araraquara, 1915. |
Dr. Augusto Bignardi, oriundo da província de Ferrara, na Itália, chegou a Araraquara em 1913, trazendo consigo um vasto conhecimento em engenharia e arquitetura. Como diretor da Repartição de Obras Públicas da Prefeitura Municipal, ele foi peça-chave no desenvolvimento urbano de Araraquara durante as primeiras décadas do século XX.
Entre suas obras mais emblemáticas, destaca-se o Grand Hotel Glória, projetado em 1926 e construído no ano seguinte na Avenida São Paulo, no coração da cidade. Este edifício, um marco da hotelaria local, reflete a estética eclética, com uma fachada que equilibra simetria clássica e ornamentos geométricos, revelando a sofisticação dos acabamentos e a influência europeia no design urbano brasileiro.
O hotel, inicialmente propriedade de Joaquim Rodrigues de Almeida, passou posteriormente para as mãos do imigrante italiano Guido Michetti e seus filhos, Bento e Vicente, evidenciando a forte presença italiana no setor hoteleiro da cidade. Apesar das alterações ao longo dos anos, a fachada principal do Grand Hotel Glória ainda conserva elementos originais, mantendo viva a memória de sua grandiosidade inicial.
FOTOGRAFIAS GRAND HOTEL GLORIA
Grand Hotel Gloria em fevereiro de 2024 - Foto (Michel Belli) |
Além do hotel, Bignardi também é responsável pela Residência da Avenida Dom Pedro II, construída em 1928. Este projeto, propriedade de Raymundo de Paula e Silva, apresenta uma configuração de uso misto, incorporando tanto a moradia quanto a prestação de serviços, refletindo as transformações sociais e econômicas de Araraquara na época.
A residência, alinhada ao lote e com acesso principal através de uma varanda lateral estruturada em ferro, exemplifica a transição para um novo modo urbano de viver. A distribuição dos espaços internos, desde a sala de visitas até a cozinha e banheiro nos fundos, revela a busca por praticidade e conforto na arquitetura residencial da época.
FOTOGRAFIAS RESIDÊNCIA DA AVENIDA DOM PEDRO II
Residência da Avenida Dom Pedro II em fevereiro de 2024 - Foto (Michel Belli) |
Residência da Avenida Dom Pedro II em fevereiro de 2024 - Foto (Michel Belli) |
Dr. Bellarmino Grossi
Por outro lado, Dr. Bellarmino Grossi, outro imigrante italiano de renome, deixou sua marca em Araraquara ainda mais cedo. Entre 1900 e 1901, Grossi era proprietário de uma ferraria e serralheria e, a partir de 1904, começou a atuar como engenheiro, carpinteiro e ferreiro. Sua versatilidade o levou a inscrever-se como proprietário de uma pedreira em 1909, e sua habilidade técnica foi reconhecida em várias obras para a prefeitura municipal, incluindo a concepção de uma lavanderia totalmente automática.
A Residência Térrea da Rua Padre Duarte, construída em 1880, é um exemplo notável de seu trabalho. Originalmente uma residência unifamiliar para o Comendador José Pinto Ferraz, esta edificação localiza-se em um ponto estratégico da cidade, próximo a importantes marcos históricos e culturais. O design da residência reflete princípios clássicos de simetria e ritmo, com elementos neoclássicos na fachada, demonstrando a influência italiana na arquitetura local. Em 1930, o edifício foi transforado em uma instituição educacional, servindo como sede para o Colégio Progresso de Araraquara.
FOTOGRAFIAS RESIDÊNCIA DA AVENIDA DOM PEDRO II
Residência Térrea da Rua Padre Duarte, fevereiro de 2024 - Foto (Michel Belli) |
Residência Térrea da Rua Padre Duarte, fevereiro de 2024 - Foto (Michel Belli) |
A obra de ambos engenheiros em Araraquara é um testemunho do intercâmbio cultural e tecnológico proporcionado pela imigração italiana, trazendo inovações estilísticas e contribuindo significativamente para o desenvolvimento urbano da cidade. Ao revisitarmos esses marcos arquitetônicos, não apenas celebramos a herança italiana, mas também reconhecemos a importância da diversidade cultural na construção de nossas identidades urbanas..
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